domingo, 25 de fevereiro de 2007

Entêrro do Entrudo



Terça-feira de Carnaval de 2007 em Vila Nova, Vila Real









O funeral ou a queima de um boneco de palha representando Judas Iscariotes é um costume conservado em diversas localidades de Trás-os-Montes e de outras regiões de Portugal.



A sua origem perde-se nos tempos. Em alguns lugares a Queima do Judas é feita no Sábado de Aleluia ou durante a Quaresma mas em localidades como Vila Nova, próximo de Vila Real, o costume de se representar o cortejo fúnebre, leitura de testamento e queima do Judas na forca, é antecipado, vá lá saber-se porquê, para a noite de Terça-feira de Carnaval, véspera de Cinzas.

Na festa, pois de uma pantomina se trata, misturam-se práticas pagãs com símbolos do cerimonial fúnebre católico: a cruz, o sacerdote, o caixão, o acompanhamento do defunto em procissão, até ao cemitério.
O enterro, marcado para as 21h30, começou com os gaiteiros a tocar no largo junto à estrada, onde se juntou muito povo, incluindo mulheres, homens, jovens e crianças.
Saindo do Café Vila Nova, local de encontro do grupo dinamizador, o cortejo fúnebre percorreu ruas estreitas e mal iluminadas da localidade, até chegar à forca, onde o Judas seria queimado.
Na estrada, os automobilistas, surpreendidos pela marcha fúnebre, abrandavam e sorriam, cúmplices.À cabeça do funeral, atrás do caixão, alvo de todas as atenções, seguia a viúva carpideira, coadjuvada pelas comadres, representadas por actores e rapazes com jeito para a pantominice. Num meio pequeno e conservador, serem mulheres a representar estes papéis poderia não ser socialmente bem aceite.Na escuridão da noite fria, iluminada pela luz dos archotes, membros do «staff» funerário retiram do caixão um boneco tosco, representando a figura de Judas, o traidor.
Num palco montado junto ao cadafalso, a leitura galhofeira da sentença, testamento e vida pecaminosa do Judas, numa crítica chocarreira aos hábitos e costumes da comunidade de vizinhos e moradores de Vila Nova.A viúva de Judas enquanto chora desconsolada a morte do seu homem, vai deixando a porta aberta à companhia de outro. Ouve-se «Ganda puta, é o que tu és!»A viúva, divertida e de língua solta, provoca comentários mordazes de homens mais «ordinários». «Pois... tu não gostas dele cremado, só enterrado!»No contexto de regozijo pela queima do Judas traidor, soltam-se fantasias inibidas pelos interditos sociais, assumindo a viúva, com beneplácito dos participantes, a liderança da consciência colectiva.Depois do enterro, os gaiteiros do grupo de teatro Trouxa Mouxa, a comissão do funeral, a viúva e os seus amigos e comadres, voltaram para o café de onde havia partido o cortejo fúnebre, para continuarem o convívio pela noite dentro.O funeral e queima do Judas cumpriram o seu papel. O apóstolo maldito, imolado num auto-de-fé popular, serviu de bode expiatório, de catarse regeneradora e reforçou a identidade de pertença à comunidade.
Em Vila Nova o funeral de Judas tem os seus fervorosos guardiães. Para o ano, por bem da ordem social, repete-se o esconjuro. E toca a gaita!





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sábado, 24 de fevereiro de 2007

Entrudo de Podence

Onde a tradição dos caretos está viva.








Facanito
É de pequenino que se torce o pepino!






Grupo de bombos da universidade do Minho anima o Entrudo Chocalheiro.



Com a integração de elementos exteriores, necessários, devido ao crescente sucesso e renome do Entrudo de Podence...












...o Carnaval dos caretos, com o tempo, vai acabar por
perder a sua ruralidade, deixar de ser apenas património de uma comunidade local para se transformar numa imagem cultural de Trás-os-Montes e, quiçá, de Portugal, no estrangeiro.








Ciao Serenissima!
Trio elegante, sobretudo por parte da mascarada de cabeleira ruiva, cujos gestos e vestes nos transportam ao Carnivale aristocrático de Veneza.



Sem chocalhos e a algazarra de matrafonas, o trio passou com distinção no Entrudo Chocalheiro!

Por isso, que volte pró ano, prá coabitação chocalheira da fidalguia com caretos e matrafonas.














Gaiteiros
Entrudo sem gaiteiros
não é festa!

 






O grupo Trouxa Mouxa, de Vila Real, levou a animação a Podence

 







Sempre a chocalhar
Rua abaixo, rua acima, lá andam os caretos, desatinados.
Todavia, à falta de homens, também cá andam caretos de sexo feminino a chocalhar.










 
As raparigas que se cuidem ou que se preparem, ou se ponham a geito para serem chocalhadas.












É Carnaval, ninguém leva a mal!









Os sete magníficos
A tradição já não é o que era! A nova geração de caretos introduziu elementos de economia de mercado no Entrudo Chocalheiro.












Para angariar fundos, sete dos caretos são turistas vencedores de um leilão na Internet.

 









O burlesco à solta
Com as tradicionais rendas a cobrir o rosto.
















 











Desfile de marafonas
O Entrudo, como interregno e válvula de escape de interditos sociais na comunidade rural.

 









Homem da lenha
Marafona faz cair o homem que foi buscar lenha para queimar o entrudo



Tendinhas
O entrudo de Podence está a transformar-se num espectáculo. A montagem de barracas de artesanato e de fumeiro destinam-se a satisfazer a avidez de consumo do turista urbano e intelectual que procura a aldeia. A transformação em evento de massas poderá ser a fase seguinte.













A magia dos símbolos
Manifestação paralela ao Entrudo Chocalheiro



Casa do careto
É a instituição que pretende preservar uma manifestação cultural que noutras aldeias se perdeu com a hemorragia emigratória da última metade do século XX.





 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antiga Casa Grande
Com capela particular, em ruínas, pertencente a antigos senhores de Podence.


 
 
 
 
 
 


 
Casa de «avecs»
Marca a diferença de estilo no património edificado, entre o tradicional, em xisto, e o moderno, trazido de franças e araganças. Emigrantes, novos senhores de Podence?
 









Queima do careto
O Carnaval, festa da carne, da folia, do interdito, chega ao fim. Termina com a queima do entrudo.









Há que exorcisar o diabo que está em cada um de nós! Purificado pelo fogo, o homem fica redimido do pecado! Chegada a Quaresma, é tempo de abstinência.

 

2 comentários:

Xo_oXdisse...
Olá
Também estive em Podence, mas no dia 18. Ainda pensei que nos íamos lá encontrar...
Cumprimentos
Aníbal
Maria Lourdesdisse...
Olá Adriano...

Mais uma manifestação da tua alma sensível à cultura dos povos e às suas realizações. Especial afecto pelo povo do Norte ,o teu, aquele que tão fortemente traçou a tua personalidade.

E assim vamos aprendendo também .....

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Entrudo com sabor tropical


VILARANDELO


Trás-os-Montes profundo rendido ao samba e às cores do Carnaval brasileiro











Concelho de Valpaços










































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