Linha do Tua, que futuro?
“9 meses de Inverno e 3 de inferno”, dito popular para caracterizar a grande variação térmica do clima da Terra Fria transmontana, se tomado à letra, não se aplica a Mirandela, pelo menos neste Outono com sabor estival.
O provérbio serviu, no entanto, de mote para a conferência realizada na cidade para debater o futuro de Linha do Tua.
Mirandela, sente-se no discurso dos seus autarcas, tem ambições de liderança regional, justificadas pela centralidade geográfica, situada no coração de Trás-os-Montes, acessibilidades, e crescimento económico acelerado a partir das últimas décadas do século XX.
Com os acessos ao IP4, Mirandela está a retirar Valpaços à órbita de Chaves e prepara-se para rivalizar com Bragança no controle de Vinhais. Os municípios da Terra Quente, esses já estão na esfera de influência da cidade. Vila Flor serve de cenário à telenovela “A Outra” mas é em Mirandela que ficam os restaurantes e a estrutura hoteleira acolhedores dos turistas que demandam a região à procura dos lugares associados às personagens da telenovela.
Por isso, consciente da sua força de atracção, Mirandela não esconde os seus objectivos e está determinada a avançar na defesa da Linha do Tua, contra a vontade de líderes regionais enfeudados às elites dominantes a nível nacional, e sem a companhia dos municípios banhados pelo Tua, envoltos em questiúnculas de lana-caprina.
Mirandela conta neste momento com o precioso apoio de diversos Compagnons de Route - monárquicos, comunistas, ecologistas e movimentos cívicos. Mirandela sabe que a união faz a força e, como tal, não se sente incomodada por ter ao seu lado defensores de manifestações de rua.
Tal como este artesão sapateiro que encontrei no mercado municipal, perdão, “sapateiro, não, artista de calçado!” Mirandela tem know how e massa cinzenta ciosa de fazer valer os seus pergaminhos.
A cidade, mesmo sem o desfecho, ainda incerto da continuação ou encerramento da Linha do Tua, entrou numa dinâmica ofensiva de vitória. Na conferência ficou decidida a realização, em Janeiro, de uma sessão da Assembleia Municipal na estação de Santa Apolónia para debater o futuro do caminho-de-ferro em Trás-os-Montes.
Que pensará o presidente do meu município, o Isaltino de Morais, da pretensão das gentes da nossa terra?
Uma coisa é certa,
Ninguém segura esta Mirandela!