sábado, 17 de setembro de 2011

Museu ao Ar Livre

Arte feita em granito

Macieiras para Carrazeda, de Fernando Casás, Espanha

Desde 2004 que Carrazêda de Ansiães tem vindo a embelezar os espaços verdes da vila com um conjunto de obras de arte feitas em granito, a que a autarquia chama de, com alguma pompa, Museu Internacional ao Ar Livre  de Escultura Contemporânea.

Justifica-se. O granito faz parte da identidade das Terras de Ansiães: tanto está presente na paisagem natural como no património edificado, desde as antas da pré-história aos cromeleques contemporâneos.



Nascido do Chão - granito, metal e água - de Carlos Barreira, flaviense

Ao ler notícias da criação de um espaço de arte vanguardista, com esculturas de granito, expostas ao ar livre, vieram-me à memória imagens do Parque Vigeland. Situado em Oslo, capital da Noruega, é um extenso e bonito parque com mais de 200 esculturas em granito e ferro, feitas por um único escultor. Na expectativa de conhecer o Vigeland transmontano do meu imaginário, subi à Terra de Ansiães.


Pedra Bulideira

Lá chegado, fiquei desiludido com o dito museu porque o mesmo não correspondia à expectativa que  levava. "Onde fica o parque?" perguntava eu, sem que nenhum morador me soubesse responder. Vim a perceber depois que as esculturas iniciais, umas vinte, estavam dispersas por diversos jardins existentes, sem que o conjunto de obras de arte granítica estivesse inserido num único espaço físico, criado de raíz.



Os Sete Livros da Vida, de Alberto Carneiro

Um dos espaços convertidos em núcleo museológico, é o emblemático jardim da Biblioteca Municipal, lugar onde "a sabedoria da terra ainda repousa". O conjunto escultórico, formado por árvores, terra, relva, pedras em forma de livros abertos e palavras que "ensinam o caminho da arte e da vida", foi naugurado em 2002, antes da criação do museu. Sete é um número mágico. Serão sete os livros abertos?


Lugar da Paz, de Satoru Sato, Japão

Como é que a Praça do Toural, com o historial de espaço onde em tempos os caçadores esperavam os coelhos que lá iam estercar, e onde, mais recentemente, tinham lugar as feiras de gado bovino, pode ser o local ideal para uma escultura denominada Lugar da Paz? Onde é que num pequena praça, transformada hoje em parque de estacionamento público, cheio de bulício, pode haver simbiose  com uma escultura que pretende simbolizar uma "espiritualidade de paz"?  Só fazendo um forçado exercício de abstração mental é que se pode ver esse simbolismo!


No entanto, na escultura há elementos em  forma de círculo - símbolo da perfeição - e de pirâmide com o vértice voltado para cima - símbolo  de comunhão com o cosmos  - que associados à proximidade do cemitério - lugar de repouso e meditação - podem sugerir que o espaço seja lugar de paz, tanto mais que as pedras ou bancos que vão da coluna granítica - o ser humano -  até à pirâmide no centro do círculo, sob a copa frondosa das árvores, podem, num contexto de transposição imaginária para um intimista jardim oriental japonês, ter a função de etapas percorridas pelo ser humano até atingir a espiritualidade.  Mas, para que essa simbiose surja explícita, despojada de acrobacias interpretativas, é preciso transformar a Praça do Toural, valorizando-a em termos paisagísticos. Assim, não!



As nossas mesas, de Mark Brusse, Holanda

O museu do granito tem as designações de internacional e contemporâneo porque, julgo eu, o acervo é constituído por obras de autores vivos, de diferentes nacionalidades. Além de escultores portugueses, estão nele representados artistas  oriundos do Japão, Itália, Irlanda, Alemanha, Espanha e Moçambique. No nome de cada um daqueles a cujas obras me refiro, faço uma ligação, para que os interessados tomem consciência do valor dos escultores representados no Museu de Arte Contemporânea de Carrazeda de Ansiães. 




As obras do holandês Mark Brusse, quatro mesas, todas diferentes,  podem ser vistas no jardim  Lopo Vaz de Sampaio, cada uma num dos quatro cantos do jardim.




"Em cada um dos quatro cantos das mesas erguem-se cabeças humanas, olhando quem passa e assumindo-se como guardiães da vida simbolizada e estilizada por figuras amorfas colocadas no interior de cada mesa".



As nossas mesas  - "Estes quatro símbolos estão presentes nas vivências quotidianas desta região". Através das fotos, espero não estar enganado,  identifico as mesas do granito, do vinho e da maçã. A quarta permanece uma incógnita.




Arco em granito, de Mauro Staccioli, Itália

O arco, denominado Carrazeda de Ansiães 2007, apesar  da grande dimensão, tem uma estrutura leve e não se torna pesado na Praça dos Combatentes. Isolado, num descampado, falta-lhe um arranjo urbanístico que valorize  as suas  graciosidade e grandiosidade e o torne numa espécie de moderno arco triunfal de uma vila apostada em vencer o desafio do futuro.


Pedra bulideira
A minha obra preferida